Entre a verdade e a manipulação

As perguntas só ofendem aqueles que não sabem ou não podem dar a resposta.

À distância, avistavam-se nuvens pesadas aglomerando-se, prenúncio de uma tempestade. Da mesma forma, os habitantes da vila das fadas aglomeravam-se à porta do centro filosófico. Não era apenas um aviso; todos sabiam que a verdade desceria como um dilúvio sobre aqueles que acreditavam ser capazes de manipular ou simplificar a complexidade da alma humana.
Questionar é um direito inerente a todo ser vivente, e ponto. Sobre isso, não há discordância – ou será que temos camaleões entre nós?
O constrangimento, por sua vez, é apenas uma artimanha obsoleta, um truque brega que os camaleões usam para evitar serem desmascarados.
Indignação e sarcasmo são as ferramentas de uma alma morta, clamando por liberdade de pensamento. Tudo o que você precisa é fundamental para ascender e manter sua energia.
Então, se for necessário, acendam os fogos do universo! Façam os ventos rugirem entre relâmpagos e trovões! Acorde, irado, como Jesus ao ver o templo de seu pai vilipendiado. Mergulhe no seu oceano interior e permita que as nuvens escureçam, que o tempo feche, que a chuva caia e purifique a hipocrisia que reina nas relações humanas.
Pah! O estrondo ecoou quando o grande portal se abriu com força, e ela o atravessou, apressada e rubra de raiva. Entretanto, ela sempre se contém – ou quase sempre… (risos).
Pois bem:
Num salão lotado, repleto de seres mágicos que espiavam até pelas janelas, ela ergueu a voz diante dos presentes:
Quem tem o poder da audição, ouça! E quem tem apenas orelhas, que se mantenha em silêncio.
Embora sua postura pudesse parecer dura e aborrecida, sua voz doce ecoava com ternura, preenchendo o salão suavemente, como se estivesse vazio, ou como se ela falasse por meio de um megafone. O silêncio foi igual, entre aqueles que ouviam e os que apenas possuíam orelhas. Continuemos…
Se o mundo fosse simples, como a lógica binária de 0 ou 1, qualquer um, ou até mesmo o zero, seria capaz de entendê-lo, não é? Mas a vida é muito mais complexa que essa dualidade básica, não concorda?
Então, a quem interessa que eu valha menos que 1?
Mais ainda… será que sou eu quem deseja que meu valor seja inferior?
Embora devamos compreender e tentar aceitar a desonestidade do pensamento humano, isso nos incomoda e gera insegurança nas relações. Confiar não significa não poder questionar. Confiar não é aceitar cegamente o que o outro diz. A confiança verdadeira reside na liberdade de ter uma conversa sincera, sem constrangimentos, e saber que o outro vai receber sua essência.
Erramos constantemente uns com os outros, e a confusão sobre o conceito de confiança manipula perguntas, constrangendo quem consegue enxergar através do terceiro olho. É na defesa de sua própria existência que o imoral ataca a moral do questionador, tudo para evitar que ele aprofunde o assunto que o desonesto deseja esconder.
Portanto, aquele que responde com “Quem desconfia, é porque trai e é infiel” está usando um argumento desonesto.
Sim, claro! Ele tenta constrangê-lo desde o início, insinuando que quem faz esse tipo de pergunta é quem apronta. Agora me diga: já viu um raciocínio mais insensato que esse?
Pense na insensatez da mente daquele que acredita poder mensurar o comportamento com uma régua de duas casas decimais. É como dizem por aí: não chega à rasura de um pires!
Se nos deixarmos medir dessa forma, perderemos, de fato, o direito de pensar! Preste atenção: desconfiar de que algo está errado não significa que você tenha cometido um erro, ou que tenha “comido doce no supermercado” e, por isso, está impedido de fazer perguntas. Claro que não.
Por que pular direto para a conclusão errada? A pessoa que desconfia não é, necessariamente, quem apronta. Pode muito bem ser alguém que confiou demais nas pessoas erradas e, após tantas decepções, já não consegue confiar.
Também pode ser uma alma livre, que simplesmente gosta de fazer perguntas e nada mais. Essa coerção do pensamento é profundamente incômoda.
Ela fez uma longa pausa, bebeu um copo de chá de energia com mel de laranjeira, e continuou: lembro-me de regimes comunistas, onde a igualdade forçada se manifestava em uniformes idênticos e comportamentos padronizados. Essa ditadura sufocava a diversidade.
Dizem defender a diversidade, mas, em público, defendem a igualdade forçada? É aqui que se separam as mulheres das meninas, não é? A nobreza do ser humano não é inata, não se vende no mercado, nem cresce como mato. Será que temos coragem de ser honestos?
Sim! A honestidade intelectual é uma característica de pessoas seguras, curadas, livres e diversas. Não há mordaças em minha boca, nem correntes em meus pés. Desconfie, portanto, de quem lhe tira o direito de questionar e indagar.
Provavelmente, essa pessoa deseja manipulá-lo, constrangê-lo em sua dúvida, como se fosse isenta de falhas. Aqueles que traem cerceiam perguntas e evitam ser questionados.
Quem é verdadeiramente livre acolhe as perguntas. Para essas pessoas, cada questionamento é um sinal de amor e conexão. Compreende?
Acho que o mundo tem trocado os pés pelas mãos, e por isso, ninguém mais sabe nem em que banheiro entrar. Muitas pessoas afirmam defender a diversidade, mas, sob o olhar atento da sociedade e dos moldadores de opinião, frequentemente agem de maneira oposta. Isso me causa muita confusão.
E você, o que pensa? Responda a si e se quiseres também a mim.
Por ora, é melhor deixarmos o sol brilhar e clarear nossas mentes. Ommmm!
Gratidão;
Dan Dronacharya

O meditador e suas características

Meditar não é o mesmo que refletir, meditação é o esvaziar do ser, ela é o silencio da mente quando a alma está a transbordar de amor.

Reza a lenda que o ser humano é aquilo que espalha e não o que acumula, correto? Mas, todos reconhecemos que também existem as conquistas que não bradamos, aquelas que deixamos em OFF, sabe?
São vexatórias e não nos trazem orgulho, não nos alegra a alma e muito pelo contrário, elas alimentam o egoísmo, são pesadas, não acalentam o coração e muitas vezes nos martirizam a mente, são como a famosa vitória de Pirro, você ganha a guerra, mas a compensação por isso é amarga, solitária e triste. Compreende?
Isto porque há conquistas que nos enrubescem, nos constrangem e nos envergonham, tal qual os diplomas vazios de conhecimento, as relações que nos despojam de nós mesmos ou as partidas conquistadas com batotas. Esse tipo de vitória não alegra os honestos de coração, não enriquece a alma do ser humano e em nada dará satisfação.
Bem
Ao examinarmos mais profundamente as interações humanas com uma lente amplificada e imaculada, poderemos notar que os deslizes que cometemos contra nós mesmos em busca de aplausos são efêmeros.
Perceberemos com uma clareza irritante que a nossa necessidade imatura por atenção e as nossas carências são na verdade uma atitude irreverente do ser para com a sua essência.
Nessa turbulência, buscamos ainda que inconscientemente a paz e o centro do nosso ser, neste momento se percebe que a meditação pode ser nossa bússola e pode nos mostrar o caminho de volta, dissipando as dúvidas sobre nosso bem-estar.
Meditar é escutar a si…
Não carecemos de medicamentos ou tratamentos exaustivos para encontrar as respostas para nossas dores. Basta fechar os olhos, aquietar o corpo e direcionar a sua atenção para o seu interior.
Tente;
Sente-se, feche os olhos e simplesmente acompanhe a jornada interna na cadência da respiração. Sinta o ar entrar e sair e concentre-se neste movimento, perceba a temperatura, as sensações na pontinha do nariz, observe-se, liberte-se. Vamos lá!
Aprecie a sua presença, brinde com a sua existência e permita que o seu ser dance deliciosamente dentro da sua mente, tão etéreo quanto uma pluma ao vento.
Venha, sinta a leveza de ter, amar e ser. Desperte e assegure sua paz…
A meditação é a vereda segura para os que rejeitam futilidades mundanas. Ela é a porta para a comunhão sublime consigo mesmo, o encontro imortal da sua alma com o seu corpo.
Meditar não é buscar a passividade, tampouco é acatar os outros. Na verdade, é aceitar a si mesmo. Meditar é reconhecer as suas falhas e a humanidade diante do Universo.
Meditar é observar a inquietação interna, é acompanhar o seu movimento, focando no autocontrole para que nenhum demônio possa se apossar de si, meditar é manter a alma límpida, o coração amoroso, inabalável e puro, mesmo acompanhada de vampiros no lamaçal humano.
É ser totalmente mestre de si. Não é apenas uma mera reflexão; quem medita não se deixa poluir pelo caos alheio, o meditador é como um espelho, ele reflete a imagem do outro, mas não absorve a sua essência, portanto meditar também é arte de manter a sua essência com tranquilidade e sem imposição.
O meditador não se vangloria, não discute trivialidades, não disputa e não faz contendas. Ele é pacifico e sabe que as maiores crueldades são cometidas por pessoas que se creem superiores.
O meditador evita se envolver nas diversas batalhas da lógica, porque já compreendeu que a mente humana só avança quando podemos ver um caminho e, portanto, na ausência desta percepção não tem porque haver discussão.
Quem medita, descobre as respostas internamente e silenciosamente em vez de buscá-las no conturbado e barulhento mundo exterior.
A postura do meditador é de respeito, ele não persuadirá os outros a aceitarem o que ainda não é evidente para todos.
Essa habilidade de permitir que os outros sigam seus próprios caminhos é desenvolvida ao longo de um extenso período de prática tranquila, por isso tenha paciência consigo.
Por ora, deixemos o Sol adentrar e brilhar…
Que o pranava ommmmm nos guie todos os dias!
Com gratidão e amor.
Dan Dronacharya.

PS: Este artigo também pode ser lido na revista Meer;
https://www.meer.com/pt/81665-o-meditador-e-suas-caracteristicas