A Importância da Renúncia

Na busca por um equilíbrio espiritual, enfrentamos constantemente as armadilhas da austeridade egocêntrica e da passividade descuidada ou ardilosamente planeada para se obter algo. Essa passagem do livro que estou lendo me tocou profundamente por tratar dessas armadilhas e reforçando a consciência de que o verdadeiro amor divino exige o desprendimento completo de preferências e aversões.
San Juan de la Cruz usa a bela metáfora da ave presa a um fio para ilustrar como até os menores apegos podem impedir nossa ascensão espiritual.
Compartilho este trecho do livro “Filosofia Perene de Aldous Huxley como uma reflexão sobre a importância da renúncia, não como um ato de passividade, mas como uma entrega ativa à vontade pacifica.

Na prática da mortificação, como na maioria de outros campos, o avanço se cumpre ao
longo de um fio. De um lado espreita a Escila da austeridade egocêntrica; do outro a Caríbdis de um descuidado quietismo. A santa indiferença inculcada pelos expositores da Filosofia Perene não é estoicismo nem mera passividade. É bem mais uma resignação ativa. Renuncia-se à obstinação, não para que haja férias totais da vontade, mas sim para que a vontade divina possa servir-se da mente e o corpo mortificados como seu instrumento para o bem. Ou poderíamos dizer, como Kabir, que “o buscador devoto é o que mescla em seu coração as duplas correntes do amor e o desprendimento, como se mesclam as correntes do Ganges e do Jumna”.
Até que coloquemos um fim aos efeitos particulares, não pode haver amor de Deus com todo o coração, mente e força, nem caridade universal para todas as criaturas por amor de Deus. Daí as duras palavras dos Evangelhos a respeito da necessidade de renunciar aos próprios laços de família.
E se o Filho do Homem não tem lugar onde descansar a cabeça, se o Tathagata e os Bodhisattvas
“têm seus pensamentos despertados à natureza da Realidade sem residir em coisa alguma”, isso
é porque um amor verdadeiramente divino que, como o sol, reluz igualmente para justos e
injustos, é impossível para um espírito aprisionado em preferências e aversões privadas.
A alma que tem afeto em alguma coisa, embora mais virtude tenha, não chegará à
liberdade da divina união: Porque tanto faz que uma ave esteja agarrada a um fio magro como a um grosso; porque, embora seja magro, tão agarrada estará a ele como ao grosso, tanto que
senão quebrar não voará.
Assim a alma, sujeita pelos laços dos afetos humanos, por mais leves que sejam estes, não pode, enquanto durarem, encaminhar-se a Deus.
San Juan de la Cruz

Por ora deixemos o Sol brilhar;
Gratidão mais uma vez;
Dan Dronacharya.

A liberdade e as Visões de mundo

Reflexões sobre a essência humana e a busca pela autenticidade

Este é mais um artigo meu na revista Meer
https://www.meer.com/pt/74007-a-liberdade-e-as-visoes-de-mundo

Segundo o nosso amado Bert Hellinger, existem duas formas de ver as coisas ao nosso redor: a forma filosófica e a forma terapêutica.
A forma filosófica, é aquela que traz julgamentos. Essa forma de ver falará sempre dos avanços mentais que tivemos, analisará o todo e muitas vezes dará seu veredito de forma fria e imparcial.
Por outro lado, o olhar terapêutico tem uma outra abordagem. A sua visão é mais acolhedora, menos fria e mais humana. Esse modo de ver as coisas analisará as circunstâncias e evitará os julgamentos precipitados que geralmente são conceitos próprios do mesmo julgador. Para o olhar terapêutico a analise precisa ser mais profunda, acredita-se que o indivíduo pode não ser ruim, mas, sim circunstâncias que o levaram a tais atos “condenáveis,” as vezes se envolveu em algo ruim, entrou numa cilada, confiou em quem não devia, e assim por diante. E sim! O oposto também é verdadeiro: muita gente é lobo em pele de ovelha, se faz de bom para conquistar, se arma em príncipe encantado e tantas outras formas de ludibriar.
Mas qual é o seu olhar? A sua visão de mundo se baseia apenas nesses dois conceitos, ou você também acha que a vida é bem mais ampla do que as duas visões de mundo citadas acima? Segundo Jordan Peterson, o indivíduo, quando livre de “olhares”, só faz aquilo que realmente quer fazer. Será?
Eu concordo com Jordan neste sentido, só que também acho que as pessoas fazem o que querem o tempo todo e não somente quando não estão cercadas de pessoas, ou seja sozinhas. O meu amado professor de ética, Clóvis de Barros Filho, sempre dizia em suas aulas que a moral é aquilo que você faz quando está sozinho. Mas, exercitar qualquer coisa longe dos olhares alheios é bem mais fácil e, às vezes, até mais prazeroso, não é?
No final das contas, e em última instância, o ser humano só satisfaz ao seu desejo próprio. Ele sempre irá lutar para manter aquilo que mais valoriza. Mas como explicar aqueles momentos em que a gente acaba fazendo as coisas sem querer? Como entender as obrigações e as regras? Essa liberdade de ser o que quiser existe ou é só mais um conto?
Acredito que essa resposta também já esteja respondida dentro de si. Nós sabemos até onde ir, como ir e com quem vamos. É importante discernimos que nada é absoluto e tudo é variável! Quando não entendemos isso, seja por falta de informação ou por ignorância, perdemos a liberdade.
Segundo a filosofia do Yoga, “liberdade é autodisciplina”. Acredita-se que o ser é autorresponsável , quando ele responde conscientemente por seus atos e sentimentos, quando ele já não culpa mais ninguém pelos seus sentimentos e ações, é que ele se torna livre. Para o Yoga, uma pessoa só é livre quando ela já conseguiu se soltar das amarras dos outros.
Se abdicarmos dessa responsabilidade, também perderemos a liberdade. Alguém mandará na nossa vida porque não somos capazes. Liberdade é poder responder pelas coisas, sejam essas escolhas positivas ou negativas, segundo olhares alheios, e qualquer coisa fora disso é lenda. A observação disso é muito simples: se alguém paga, esse alguém também manda.
Eu sou meio como Voltaire, acredito que liberdade é possuir todas as chaves, ser conhecedor de todos os caminhos e ainda assim resolver se permanecer. Acredito que um anjo que corta as suas asas talvez tenha em seu peito o desejo, ainda que insano, de não mais querer voar. Acredito que o ser só é livre quando pode ser “parvo”, até mesmo porque, para mim, todas as pessoas ignoram algum assunto e o entendido de tudo não entende nada.
Para mim, a liberdade é a maior conquista da alma humana, e por isso ela é muito falada, confundida com libertinagem e, portanto, usada indevidamente.
Penso que ser livre para pensar ou para ser você mesmo independentemente do que os outros querem de você, ainda é a nossa maior busca.
Gratidão,
Dan Dronacharya.

A expressão “secreto” ou “oculto”

Hello my dear readers,

“A expressão “secreto” ou “oculto”, no Budismo, principalmente tibetano, não designa nada
que seja intencionalmente escondido, mas só o que pode ser conseguido pela autodisciplina,
autocontrole, concentração, experiências vividas e visão interior.”

Trechos do livro ” Budismo- A psicologia do autoconhecimento”

Numa galáxia bem, bem distante daqui, existe um lugar chamado “Fantastic World”, é um pequeno mundo que pensa ser grande, onde reina um Deus, sendo tido como o todo o poderoso, mas que não domina nem o mundo que ele mesmo criou.

Lá quem manda é um ser asqueroso que o todo poderoso disse que havia sido condenado ao sub mundo do tal “Fantastic World”, vai vendo! O mais estranho disso tudo é que lá por essas bandas, reza uma lenda que diz “tudo aquilo que está oculto não provém do SENHOR”.

“Em seu coração há uma estrada que só você pode percorrer. É um privilégio única e exclusivamente seu descobrir-se e ser verdadeiramente você. Encare o desafio. É incrivelmente compensador. É verdade que há esforço, tanto quanto é necessário esforçar-se para ter uma casa organizada ou um corpo saudável. Mas, de igual modo, o esforço compensa.”

Talita Dantas.

Bem como diz aquela máxima “seria cômico se não fosse trágico”.

Continuemos com o baile meus amores…

Ora, mas, que senhor? O que não pode ser secreto e o por quê deve ser partilhado? Por que obedecemos cegamente essa crença de sermos tão transparentes? Por que confiar desmedidamente nos outros? E, por que achamos que estamos corretos? Estamos fazendo o bem? Bem? Para quem? Nós ficamos vulneráveis e totalmente desprotegidos quando agimos desta forma.

“Se ninguém mais pode sentir por mim, se não há quem possa falar as palavras que estão na minha boca, é mais que uma necessidade, um dever, uma questão de honra saber quem sou, para que eu possa dizer ao mundo a que vim. É uma obrigação moral.”

Carl Jung

Isso é ser imprudente com o teu sagrado! Mas uma vez digo que só fazemos isso porque não questionamos as tantas informações que coletamos por toda a nossa vida. Nós temos uma pressa intrínseca e somos pra lá de carentes. Nós temos medo de dizer que não entendemos ou que não podemos contar.

Calma meu caro amigo ou leitor, eu sei! Isso parece ser desnecessário, mas quantas decepções você tem tido por conta dessas aberturas que deu a quem não merecia? Quantas vezes você arrependeu-se de dizer algo rude para alguém? Bora refletir!

Nós, inconsequentemente abrimos, o nosso sagrado e sem muitas reservas a todos que se aproximam da gente, sendo que nós deveríamos protegê-lo de todos. A gente deveria ser mais prudente e abrir o nosso coração somente para aqueles que se mostrarem dignos de tal honraria. Afinal, não se abre os tesouros que possuímos a qualquer um, correto?

“Certa vez disseram-me que o coração é terra que ninguém pisa, hoje sei que devo saber morrer e renascer todos os dias.”

Dan Dronacharya.

Bem, inspire e expire lentamente, tome um café e vamos jogar um bocado de luz nisto né?

Há muito tempo, numa outra vida recente, eu vivi neste “Fantastic World”, por muito tempo eu pensei que este pequeno mundo fosse apenas uma das muitas criações da minha mente, doce inocência! Hoje sei a diferença entre o que vive e o que existe, entre o que é falado e o que é o fato.

Existem coisas que vivem, mas que já não existem e temos aquelas que nunca existiram, mas, vivem! Existem os fatos e as visões daqueles que testemunharam o fato. Pois, prestemos muita atenção nesta (estória) de que devemos ser transparentes e vejamos se este não é um dos maiores contos que já existiu. Por falar em contos, segue abaixo um conto tibetano para que possamos discernir um pouco mais sobre este assunto (risos). Enjoy!!!

“A velha mãe de um mercador que todos os anos ia é Índia pediu um dia, ao
filho, que lhe trouxesse uma relíquia de Buda. O mercador prometeu cumprir o
encargo, porem, preocupado com seus assuntos, esqueceu-se completamente. No meio
do caminho, na viagem de volta, recordou-se do pedido de sua mãe e pensou na
decepção que ela teria ao vê-lo chegar sem a relíquia. Enquanto refletia como
solucionar o assunto, seus olhos pousaram na mandíbula de um cão, que estava à beira do caminho. Teve uma súbita inspiração. Arrancou um dente da ossamenta ressequida, limpou-o bem e o envolveu num pedaço de seda. Em casa, presenteou-o a sua mãe, dizendo que era um dente do grande Sariputra – um dos mais eminentes discípulos de Buda.
Louca de alegria e cheia de veneração, a boa mulher colocou o dente num
relicário sobre um altar. Todos os dias rendia-lhe culto, acendendo velas e queimando
incenso. Outros devotos se uniram a ela e, depois de algum tempo, o dente de cão,
proclamado santa relíquia, emitia raios luminosos. Deste modo, nasceu o provérbio
tibetano: “Da veneração surge a luz até de um dente de cão.”

Trechos do livro ” Budismo- A psicologia do autoconhecimento”

Assim despeço-me com o coração transbordando de alegria e amor, eu sempre estarei por aqui.

Mas uma vez, OMMM JAYA!

Gratidão,

Dan Dronacharya.