Amontoado de Coisas

 Um diálogo interno entre a sabedoria filosófica e a própria experiência vivida.  

 
“A dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional.” Buda

Será?  
É engraçado como as coisas mudam de figura quando estamos do outro lado não é mesmo? Já cunhei tanto essas palavras, já defendi tanto que o sofrimento era opcional que hoje me sinto na obrigação moral de falar sobre isso, do contrário a dor que sinto seria uma banalidade, coisa que não é. 
Dor, essa palavra que tem me acompanhado em todos os momentos da minha vida desde 2020. 
Ela está comigo até quando estou dormindo, tem dias que são menos tensas ou densas, mas fato é que não tenho tido momentos sem dores, os médicos a chamam de dor cronica, inflamação generalizada na derme e tantos outros nomes, mas ninguém sabe como alivia-la, deve ser por isso que dizem que ela é opcional, pra quem? 
Já disse tanto isso, mas hoje me arrependo! 
Ontem tive mais um dia difícil neste caminhar que não sei onde vai dar, já não sei se quero lutar e nem sei se isso é luta ou fuga. 
Devo continuar? Todos dizem que sim, mas para quê? É a minha pergunta, pra quê continuar num caminho que não escolhi e que ao mesmo tempo sim, eu não escolhi morrer e nem sofrer, como continuar se não tive escolha, como funciona este jogo? 
 Não escolhi sofrer, não desejei essas dores que nem morfina consegue tirar, não escolhi não confiar, não escolhi nada de ruim que está acontecendo. Como posso afirmar que o sofrimento é opcional? 
Isso não tem sentido algum… Se não sei onde está estrada vai dar e nem sei porque devo caminhar, a pergunta agora é por que devo ir? Qual a direção, mesmo? Isso se parece com a obrigação. 
Todos seguem o mesmo caminho, crescer, estudar as nossas cartilhas, obedecer o rito metodicamente sem questionar, constituir uma família, ter um bom emprego, pagar impostos, envelhecer, ser esquecido e morrer, mas e se eu não quiser? Devo também “escolher” alguém para casar e ter filhos e outro para amar as escondidas, certo? É, claro! Senão não teria sofrimento, ou seja, perderia a graça. Qual opção eu tenho? 
Será que realmente escolhemos sofrer? Ah, Budinha, gosto tanto de ti, mas desta vez irei discordar, sei que posso mudar, e amanhã isso já não mais será a verdade, mas hoje? Agora? Não, eu não acho que tenho escolhido sofrer nem as dores físicas e muito menos as emocionais e mentais.  
Aprendi contigo que eu sou quem eu acredito ser e eu não sou esta pessoa que os outros definem, eu não escolhi sofrer as dores, este sofrer não é opcional, acredito que o sofrimento seja as consequências inevitáveis que teremos que suportar enquanto estivermos no BARDO. Nesta o Jesus está mais correto quando afirmou que no mundo, ou seja, no BARDO teremos aflições, acertou sim! 
De fato as dores são inevitáveis, mas o sofrimento também é, ninguém pode se abster disso simplesmente porque isso seria masoquismo. Desenvolva comigo;  
Onde está a razoabilidade em afirmar que um ser escolhe sofrer? Por mais que pra você tal coisa parece sofrimento, para o outro pode não ser. 
Não podemos escolher o mal para nós mesmos, se adotarmos esta mentalidade de menosprezar o sofrimento, sofreremos e faremos sofrer.  
Acredito que o Sidarta queria se abster do sofrimento, queria ser ausentar daquela dor que o perseguia, todos nós queremos e com base nisso digo que a dor e o sofrimento andam juntos, ainda que não seja a ela a nossa única fonte do sofrimento.
Mas, por ora deixemos o Sol brilhar mesmo quando estivermos no inferno, digo, Inverno.
Gratidão; (risos).
Dan Dronacharya

       

 

 

Dança com Demônios

” Paz é deixar de lado o escudo e a espada e dormir sossegada.” 

Olá amores, 
Reza a lenda que hoje eu deveria estar a lecionar na primeira turma da escola de magia. 
Entretanto, ontem escrevi sobre o silenciar das nossas vozes mentais e hoje volto ao mesmo assunto porque depois dos feedbacks fui meditar e percebi que posso ter causado alguma confusão com a minha fala.
https://www.yogacomadan.com/o-silenciar-das-vozes-demoniacas/
Bem,   
Perguntaram-me se eu danço com demónios? 
Hahaha, vale-me, minha nossa senhora das folhas secas gente. qual é a bruxa nunca dançou com demónios, não é mesmo? Dancei com vários e matei-os todos.  
Isso, mesmo eu disse que não havia mais demónios em minha vida, pois eu os tinha matado e pasmem, a pessoa disse-me que não se pode matar os demónios. Eu ri outra vez, mas desta vez o riso foi contido, ri de nervoso, como assim? Não conseguimos vencer o mal na nossa vida? Quem não consegue? Que falta de reverência com o Divino que vive em si. 
 
Portanto, hoje volto ao mesmo assunto porque depois dos feedbacks fui meditar e percebi que posso ter causado alguma confusão com a minha fala. 

Quero esclarecer que o exercício diário de um yogi é o silenciar da mente primaria, que é naturalmente barulhenta, inquieta e merecedora de educação. 
Portanto, para um yogi a liberdade só pode ser alcançada com muita disciplina, essa retidão em se auto observar emudece as inúmeras vozes mentais por mim aqui chamadas de demónios.  

Posso nomeá-los, pois tal como a deusa Kali, eu os tenho em um colar de contas.
 
Eu dancei com o demónio Insegurança por toda a minha existência e por conta desta dança enlouquecedora e doentia, acabei por rodar no salão com inúmeros demónios. 

Dancei rock com o medo, estive em um tango maravilhoso e mortal com o ciúme, transpirei até pingar na salsa quente da traição, diminui o ritmo e me agarrei na música lenta da vaidade e do orgulho e não me sentei, não descansei, dancei até o fim do baile e lá fora ainda sambei com a desonestidade e a irreverência. 

 Ainda encontro alguns por aí nos muitos bailes que a vida nos dá, mas nada que me cause espanto, no máximo um riso contido. 

O Yoga nos ensina a como lidar com as nossas intemperes e com as adversidades alheias, nós somos hábeis em contornar aquilo que não somos capazes de mudar. A dança agora é outra, é clássica como Beethoven e Mozart, transmite a harmonia, tem sintonia e espalha calmaria.  
 
O Yoga é o frear da carruagem em disparada e desorientada, não se pode alterar o trotar dos cavalos sem silenciar as muitas vozes oriundas do exterior. A mente primaria do ser são os cavalos que conduzem a carruagem. O yogi consegue domar os cavalos, respiramos profundamente e demoradamente até despertar o silêncio, ele precisa ser sentido para ser ouvido. 
 
Portanto, matar demónios é uma habilidade nata de um yogi e eu não seria uma Yogini sem tal poder. Isso é Yoga, aquela estória de ser hábil em ficar de ponta cabeça é ser bom em YOGA é lenda. 😊
 
Mas, por ora, deixemos o Sol brilhar mesmo que seja inverno, e acredite o ser precisa se esforçar para que ele brilhe, mas não titubei, o Divino habita em ti. 
So Ham…
 
Gratidão, 
Dan Dronacharya.

O silenciar das vozes Demoníacas

“Quando eu consegui me ouvir, vi que eu estava sozinha.” 

Não há ninguém aqui, onde estão todos? Os corredores estão frios e silenciosos, imóveis e sem vida como concreto armado. 
Os demónios calaram, onde estão as vozes?  

Engraçado, mas verdade é que a paz assusta meus amores… 

Bem, 

Reza a lenda que a paz mental é o cessar das muitas vozes que temos dentro da cabeça, dizem ainda que este silencio deixa-nos mais soltos e sorridentes. 
Sim! É verdade assim como também não é conto que devemos nos esforçar para que consigamos o tal sossego.

Infelizmente o silenciar dos demónios não nos trará paz de imediato, logo após o cessar das inúmeras vozes que lhe acompanharam por anos a fio, virá o desespero do que fazer com a imensidão que é o seu universo mental. 

O emudecimento demoníaco deixará o vazio que na verdade somos e não é fácil entender que não somos nada, que nós devemos nos construir e que nada vem pronto. 

Portanto, depois do vazio vem o entendimento através da percepção de que a palavra permanência é só mais uma lenda.
Perceberemos a impermanência e aprenderemos a compreender e a aceitar o mundo como é, e isso trará a paz que almejamos ou o bendito sossego como eu gosto de dizer. 😉 

Na verdade, as vozes são nossas carências frustradas, elas são as muitas idealizações que temos com relação a vida. Infelizmente para muitos de nós a vida é um verdadeiro desconstruir de sonhos e é este processo que gera as vozes demoníacas.
 
Penso que crescer e, portanto, ficar em paz é saber deixar tudo ir, é entender que a voz que retorna a si é apenas o eco da sua própria voz.  

Olhe ao seu redor, os corredores estão vazios, para onde foram todos? 
Com o passar do tempo aprenderemos a nos divertir com o silencio e por fim aprenderemos a ouvi-lo sem voz nenhuma. 

E, deste momento em diante saberemos discernir a diferença entre o sentir e o ouvir quando pronunciamos o mantra SO HAM. 

Por enquanto, deixemos o Sol brilhar mesmo que seja Inverno. 
Gratidão,  
Dan Dronacharya.