O Preço de Vestir Laranja

“As contradições do discurso de uma sociedade que celebra a diversidade, mas rejeita o diferente.” 

Quais são as suas cores?
Seja bem-vindo ao nosso meio! Sinta-se totalmente acolhido neste mundinho “perfeito”, onde tudo cabe e todos são aceitos, mas alguns são mais aceitos do que outros. Deixa eu te contar uma coisa ; “a cor da vez é vermelha.” Portanto, se o que tu queres é vibrar com a alta sociedade, é melhor que sua cor seja no mesmo tom.
Dizem que ser diferente é ser especial, mas, na prática, ser especial é carregar o peso de não pertencer ao grupo dos comuns. Além disso, não há nada de especial em não atender aos padrões, não é mesmo?
Nós vivemos em uma sociedade que prega a diversidade como valor essencial, enquanto silencia, molda ou descarta aqueles que ousam desviar do padrão.  
Sentes que és igual ou diferente? Qual a sensação que te invade ao perceber que destoas do resto? 
Nasceste assim ou te ensinaram a ser desta forma? 
Há alguém que verdadeiramente se sinta confortável na posição de diferente? Penso que não. Ser diferente é como vestir laranja num lugar onde todos usam vermelho: o contraste é inescapável, os olhares inevitáveis, e o julgamento — muitas vezes silencioso —, constante. 
Carregar a dificuldade de compreender os próprios entes queridos é um karma, uma carga pesada de suportar. Talvez o peso maior esteja no fato de que eles, em sua maioria, insistem em te tratar como um comum. Uma tentativa de encaixe que mais exclui do que acolhe. 
Chamam isso de inclusão, mas o que é, senão uma forma velada de isolamento? Pois não se inclui sem aceitar. Incluir deveria significar abrir espaço para o outro ser quem é, sem a necessidade de moldá-lo. Se realmente aceitássemos os nossos diferentes, não tentaríamos colocá-los no meio dos que se dizem normais — mas que são, na verdade, apenas comuns. 
É como uma esteira de fabricação. O analista ou a máquina seleciona o que atende ao padrão, descartando o que não se encaixa. Esse processo é essencial para obtermos produtos de qualidade superior, não é? 
Mas será que isso vale para pessoas? 
Quando tratamos indivíduos como objetos em uma linha de montagem, negamos sua complexidade, sua singularidade. Reduzimos vidas a métricas, rótulos e diagnósticos. E o que acontece com aqueles que não se adequam? São descartados? Ignorados? Ou disfarçadamente forçados a caber num molde que não lhes pertence? 
Dizem que ser diferente é ser especial. Um elogio superficial que muitas vezes esconde a resistência em lidar com o que foge ao habitual. “Especial” pode ser um adjetivo bonito, mas carrega em si a armadilha da separação: especial é sempre o outro, aquele que não é como nós. 
Mas quem são os “nós”? E quem decidiu o que é normal? 
Ao longo do tempo, a normalidade tem sido usada como ferramenta de controle, um padrão que exclui em vez de unir. Somos treinados a acreditar que há um caminho certo, um comportamento ideal, um corpo aceitável, uma mente funcional. Tudo o que escapa a isso é tratado como erro, desvio, falha. 
No entanto, são os erros que movem o mundo. Os desvios que criam novas possibilidades. As falhas que nos obrigam a repensar o que significa ser humano. 
Então, volto à pergunta: 
Será que podemos incluir sem anular? Aceitar sem transformar? 
Quem sabe a verdadeira inclusão não seja um convite para ser como o outro, mas, sim, uma belíssima celebração de tudo o que não somos? 
E talvez, apenas talvez, aprender a conviver com o que é diferente de nós seja o primeiro passo para entendermos quem realmente somos e qual padrão seguimos nesta esteira diversa e impermanente chamada vida. 
Como de costume: 
Responda a si! Eu aqui só levantei a bola, o resto do jogo é consigo. 😉 
Embora, por ora, seja melhor deixarmos o sol entrar, mesmo que ele esteja mais brando e fora do padrão (risos). 
Gratidão de coração,

Folhas Que Caem, Força Que Fica;

Um Ensaio de Superação e Autocuidado

Ah, o Outono e suas delícias! Está frio lá fora, e os insistentes raios de Surya estão irradiantes. Quando tocam as poucas folhas orvalhadas e amareladas dos carvalhos, brilham feito diamantes.
Há quem diga que esta é uma estação de introspecção. Um tempo pra ficar sozinha ao pé da lareira e refletir sobre a vida, não é mesmo? 
O Outono pode ser isso também, mas as outras estações também são, não? Então eu tenho a impressão de que nunca troquei de estação (risos).  
Pois bem;
Enquanto teço essas palavras, sinto o aquecer dos raios de Surya na janela embaçada do meu escritório. É fascinante observar as formas que surgem com o calor no vidro, parece uma dança sutil entre o frio e o calor, onde as linhas se misturam em contornos que se desfazem e se refazem, tal como as lembranças que vêm e vão.
Aqui dentro, o anseio por respostas não cessa; continuo aguardando um sinal, como um náufrago abandonado numa ilha deserta, onde a solidão é uma paisagem interna, vastamente desconhecida, desafiando a razão e o coração.
Aqui dentro há uma angústia estranha e misteriosa rondando, como uma presença que silenciosamente me observa das sombras.
Sua energia sombria aperta o peito, deixa as pernas inquietas, congela as extremidades e perturba imensamente o pensamento. O ar se torna denso, quase irrespirável, a consciência se distância e a mente fica presa em uma memória sem conseguir se desvencilhar.
Não sei de onde vem essa energia que é tão estranha e paradoxalmente tão familiar… O que sei é que isso já foi pior.
Antigamente: quando ela chegava, eu ficava toda roxa e trêmula, a voz sumia da minha boca seca, as pernas falhavam e era comum “fazer xixi” na roupa.
Eu não sabia de onde ela vinha e ela facilmente me possuía, e o vampiro que ali também vivia, se divertia com a vulnerabilidade que escorria da minha alma.
Aquele que disse que lhe amava foi o mesmo que quando lhe viu a hipotérmica e tremula lhe disse cruelmente que você poderia morrer de tanto tremer, ele é o mesmo que esperava você sair para fazer a chamada com a “coleguinha”, o mesmo que andou atrás do amor do passado por dois anos e covardemente culpou a si pelo contato, sim! Foi o mesmo vampiro que sabia que você tinha sido vitima de violência domestica, abusos e traições e prometeu proteção.
Muitos foram os comportamentos vis daquele que, aos olhos de todos, é um bom moço, um cavalheiro à primeira vista, mas que na verdade guardava um veneno nas entrelinhas de seus gestos, havia um brilho falso escondido por trás das palavras polidas.
Ele gostava de me torturar sendo cavalheiro com as colegas de trabalho e afirmando que eu para ser tratada daquela forma deveria fazer por merecer . Ele sorria enquanto minha dor florescia internamente, roubando-me a confiança aos poucos e alimentando uma insaciável insegurança que apenas ele compreendia.
Hoje,
Reconheço a astúcia dessa presença e a complexidade que envolve o poder invisível de manipular o que não é visto a olho nu. Virei segredo, haha!
Hoje, sei quando a tal energia se aproxima. Reconheço a minha fragilidade e faço dela a minha força, sei que não posso impedir sua chegada; tenho a certeza que ela me perturbará, mas também sei que não mais esmorecerei. Assumo que fui eu quem a alimentou durante todo esse tempo.
Ainda bem que com o passar dos dias, a gente aprende a manobrar esses fantasmas. Aprende a ver no espelho as cicatrizes e a reconhecer nelas a própria força, em vez da fraqueza. Aos poucos nos tornamos estrategistas e hábeis na arte da diplomacia e nenhum vampiro poderá saber de si.
Atualmente, o vento suavemente sopra nos meus ouvidos a direção exata de onde a energia estranha vem. Os corvos crocitam de forma peculiar, alertando-me sobre a intensidade do ataque, como bons mensageiros sombrios que trazem até mim os avisos das tempestades emocionais.
As mãos e os pés ainda gelam, mas já não impedem o caminhar; sou um segredo que aprendeu a pisar no gelo.
Os nervos me traem e ainda tremem, a angústia insiste em me abraçar, mas eu já não caio, adquiri firmeza atravessando o mar gelado das emoções.
Agora há algo de sólido e sereno dentro de mim, essa firmeza construída no Yoga me fez perceber que esse tipo de energia não me dominaria mais.
Os variados aromas exalados pela floresta do Norte também curam, despertam e aguçam os sentidos. Portanto, percebe-se o odor dos fétidos feromonas da perturbação ainda que estes estejam há quilómetros de distância.
Espero-os com a tranquilidade de quem recebe um mal vizinho. Tenho tempo e paciência, agora há força em mim para enfrentá-los sem medo. O Yoga ensinou-me que devemos aceitar aquilo que não podemos mudar. Hoje o tempo está a meu favor e sempre me espera calçar as botas.
As poções adoçadas com mel de laranjeira não falharão quando eu precisar curar as feridas obtidas na trincheira, as batalhas deixam marcas que exigem cuidado e doçura para cicatrizarem.
Algo mudou drasticamente depois da decepção que me golpeou…
Hoje sei que, se for preciso brigar, me impor para que o outro permaneça, é porque, na realidade, já perdi até a mim.
Foram muitas as guerras que tive que lutar até que eu entendesse que o amor verdadeiro é aquele que sinto por mim, ele nasce sem imposições, sem exigências e com muita paciência.
Não travo mais batalhas…
Hoje em dia, sei que nunca precisei disto, agora a armadura é para me defender. O mundo é insano e ainda se comporta como eu me comportava antes de entender que quem ama fica sem a necessidade de ter os pés atados para garantir um amor que, se verdadeiro fosse, não exigiria correntes.
Esse papel de lamento, de coitadinha, de que faz tudo para parecer digna de ser amada, é a maior falta de amor próprio que já vi, já vivi e que ainda vejo em muitas pessoas.
Impressionante como as pessoas inconscientemente seguem e repetem o velho padrão, corrompendo covardemente a mente de suas meninas, levando-as a acreditar que devem ser uma “menina pra casar”, a pessoa certa para fazer parte da sociedade que segue moldando-as para um amor que pede servidão, mas nunca liberdade.
Este é o cortejo fúnebre que todas passam: a menina, ou seja, a princesa despertará num castelo de gritos, ameaças, abandono e traições. Horrivelmente carregado de flertes travestidos de “coisas de trabalho”, o cenário revelar-se-á como uma prisão mascarada de felicidade da qual você não terá o direito de querer sair.
Entenderá, portanto, que foi colocada numa situação de “abate”; isto causará um grande impacto na jovem menina, e ela passará a duvidar de tudo o que existe e vive.
Inevitavelmente, a alma de princesa morrerá. Felizmente, não como uma tragédia, mas como um renascimento.
A morte dela fará com que caia por terra o adestramento paternalista que ainda caminha livremente, endossado e protegido pelas grandes instituições religiosas. Libertará a mulher, cujo o espírito emerge das ruínas de crenças impostas.
A dor da decepção será sua companheira fiel enquanto suas narinas puxarem oxigênio; entretanto, ela não mais a assombrará.
A certeza de que o amor não existe nas relações pré-moldadas, que não cabe num papel A4, lhe darão a segurança necessária para afirmar que a porta da rua é a serventia da casa.
Saberá, com toda a intensidade do seu ser, que AMAR é ter em mente que algumas feridas jamais cicatrizarão e que pelo sim ou pelo não, é melhor manter a serventia.
No fim, as coisas são como as folhas amareladas do outono que caem e são levadas pelo vento, deixa-se o que se foi para trás. Restando o que permanece vivo: a coragem de amar a mim mesma.
Dito isso ela saiu em direção a porta …
Hum, instigante mas por ora, é melhor deixarmos o Samsara seguir seu curso. Om!
Com gratidão,
Dan Dronacharya.

Amontoado de Coisas

 Um diálogo interno entre a sabedoria filosófica e a própria experiência vivida.  

 
“A dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional.” Buda

Será?  
É engraçado como as coisas mudam de figura quando estamos do outro lado não é mesmo? Já cunhei tanto essas palavras, já defendi tanto que o sofrimento era opcional que hoje me sinto na obrigação moral de falar sobre isso, do contrário a dor que sinto seria uma banalidade, coisa que não é. 
Dor, essa palavra que tem me acompanhado em todos os momentos da minha vida desde 2020. 
Ela está comigo até quando estou dormindo, tem dias que são menos tensas ou densas, mas fato é que não tenho tido momentos sem dores, os médicos a chamam de dor cronica, inflamação generalizada na derme e tantos outros nomes, mas ninguém sabe como alivia-la, deve ser por isso que dizem que ela é opcional, pra quem? 
Já disse tanto isso, mas hoje me arrependo! 
Ontem tive mais um dia difícil neste caminhar que não sei onde vai dar, já não sei se quero lutar e nem sei se isso é luta ou fuga. 
Devo continuar? Todos dizem que sim, mas para quê? É a minha pergunta, pra quê continuar num caminho que não escolhi e que ao mesmo tempo sim, eu não escolhi morrer e nem sofrer, como continuar se não tive escolha, como funciona este jogo? 
 Não escolhi sofrer, não desejei essas dores que nem morfina consegue tirar, não escolhi não confiar, não escolhi nada de ruim que está acontecendo. Como posso afirmar que o sofrimento é opcional? 
Isso não tem sentido algum… Se não sei onde está estrada vai dar e nem sei porque devo caminhar, a pergunta agora é por que devo ir? Qual a direção, mesmo? Isso se parece com a obrigação. 
Todos seguem o mesmo caminho, crescer, estudar as nossas cartilhas, obedecer o rito metodicamente sem questionar, constituir uma família, ter um bom emprego, pagar impostos, envelhecer, ser esquecido e morrer, mas e se eu não quiser? Devo também “escolher” alguém para casar e ter filhos e outro para amar as escondidas, certo? É, claro! Senão não teria sofrimento, ou seja, perderia a graça. Qual opção eu tenho? 
Será que realmente escolhemos sofrer? Ah, Budinha, gosto tanto de ti, mas desta vez irei discordar, sei que posso mudar, e amanhã isso já não mais será a verdade, mas hoje? Agora? Não, eu não acho que tenho escolhido sofrer nem as dores físicas e muito menos as emocionais e mentais.  
Aprendi contigo que eu sou quem eu acredito ser e eu não sou esta pessoa que os outros definem, eu não escolhi sofrer as dores, este sofrer não é opcional, acredito que o sofrimento seja as consequências inevitáveis que teremos que suportar enquanto estivermos no BARDO. Nesta o Jesus está mais correto quando afirmou que no mundo, ou seja, no BARDO teremos aflições, acertou sim! 
De fato as dores são inevitáveis, mas o sofrimento também é, ninguém pode se abster disso simplesmente porque isso seria masoquismo. Desenvolva comigo;  
Onde está a razoabilidade em afirmar que um ser escolhe sofrer? Por mais que pra você tal coisa parece sofrimento, para o outro pode não ser. 
Não podemos escolher o mal para nós mesmos, se adotarmos esta mentalidade de menosprezar o sofrimento, sofreremos e faremos sofrer.  
Acredito que o Sidarta queria se abster do sofrimento, queria ser ausentar daquela dor que o perseguia, todos nós queremos e com base nisso digo que a dor e o sofrimento andam juntos, ainda que não seja a ela a nossa única fonte do sofrimento.
Mas, por ora deixemos o Sol brilhar mesmo quando estivermos no inferno, digo, Inverno.
Gratidão; (risos).
Dan Dronacharya