Roda Viva

” São os loucos de Lisboa que nos fazem duvidar, que a terra gira ao contrário e os rios nascem no mar.”

Joao Manuel Gil Lopes / Joao Monge

Nossa jornada se desdobra em uma teia de momentos: na infância, tecemos sonhos; na juventude, ousamos desbravar; e na maturidade, realizamos ou apenas contemplamos o que poderíamos ter feito.  

Verdadeiramente, somente agimos conforme o nosso desejo. 

 Doze meses de trabalho árduo se convertem em um mísero mês de férias, reduzido a uma semana de viagem e o restante preenchido com tarefas cotidianas e bricolagens. 

É um sacrifício monumental – a vida, afinal, é uma mercadoria preciosa, disponível apenas em doses racionadas. 

Grande parte do tempo é gasto em planejamento, contagem de centavos e antecipação por breves momentos de contentamento. Alguns chegam a questionar se vale a pena viver. 
Recentemente, deparei-me com um artigo intrigante sobre o assunto.
O autor argumentava que as férias são mais exaustivas e desgastantes do que o próprio trabalho.
Durante esses períodos, somos confrontados com as complexidades familiares: lavar o carro no jardim, cortar a grama, crianças choramingando, esposas murmurando, maridos mergulhados em excesso, adolescentes resmungando sem razão aparente, tias intrometidas, sogros conservadores, e uma miríade de inconveniências. 
No ambiente de trabalho, durante doze meses, a realidade se torna distinta. Meu carro permanece imaculado, lavado no estacionamento da empresa. 
As colegas exalam perfumes sutis, com maquiagens impecáveis e unhas cuidadosamente esmaltadas.
Não há lágrimas, nem areia, nem queixumes. Tudo é harmonioso. 
Parece que a vida, em sua essência, consiste em trabalhar. Mas se assim fosse, por que, então, ansiaríamos tanto pela presença de outrem? 
Sinto que nos afastamos do caminho que se esperava.
Descartamos rapidamente o conhecimento, a família, os valores morais, a fim de assegurar um espaço mínimo na “sociedade correta”. 
E, posteriormente, envelhecemos lamentando essas escolhas. Será que essa trajetória é realmente inevitável? Será que não podemos discernir e harmonizar nossas ações? 
Houve um tempo distante, anterior à era dos Zagais, quando eu ainda era uma feiticeira comum e uma menina travessa, aficionada por debates e desafios.
Gostava de competir, argumentar e, principalmente, provocar. E, verdade seja dita, ainda sinto prazer na provocação (risos). 
No entanto, já desejei muito mais do que isso. Já desejei parar o mundo, reverter o curso dos planetas. Já almejei transformar completamente a mentalidade das pessoas. Anseie ardentemente por um mundo conforme minha visão idealizada.
Queria dominar todos os métodos, conhecer todos os lugares, falar todas as línguas. Viajar por todas as constelações e jamais me decepcionar com alguma. 
Contudo, hoje me contento em manter um diálogo harmonioso comigo mesma, em escrever meus contos e simplesmente respirar enquanto meu corpo resiste à morte. Já não ambiciono tocar o céu, já não alimento ilusões. 
A satisfação que me acompanha é tão plena que mal consigo olhar para trás. Acredito ter compreendido que as pessoas, em sua essência, apenas agem conforme seus desejos (risos). Portanto, não vale a pena discutir, opinar ou tentar controlar. 

Aceitei que o amor está além das convenções criadas pela mente humana. 
O amor não se explica e não se submete às regras morais da sociedade. Ele não pode ser contido em uma folha A4 e nem sobrevive em ambientes hostis. Por isso, não vale a pena persuadir, coagir ou oprimir. 

A linguagem do amor é a liberdade. E, é, portanto, o presente mais precioso que podemos oferecer a quem queremos bem. 
Aqueles que amam libertam, soltam, deixam ir… Mesmo que a alma sangre ao ver o amado seguir seu caminho rumo à felicidade. 

Eu sei que algumas coisas andam ocultas, mas o amor não é uma delas. 
Por ora, deixemos o Sol brilhar e as flores da primavera inebriar os nossos sentidos. 
Gratidão, 
A curandeira d’Almas;
Dan Dronachaya.

O Equilíbrio Delicado entre Confiança e Ingenuidade

A guerra interior: uma batalha pela essência humana

A vida não examinada não vale a pena ser vivida.

(Sócrates)

O mundo é como uma caixinha de surpresas e a vida é mesmo um verdadeiro ir e vir, tudo é vibração e movimento, tudo vai e volta, assim como as ondas do mar, portanto, espalhar amor para que isso retorne é melhor do que espalhar dores e esperar flores no retorno, entretanto manter-se na sua paz tem sido cada vez mais difícil.
Costumo dizer que quem percebe a ingenuidade de sua mente pode torná-la alvo do abuso da confiança. Maquiavel, em suas palavras, afirmou algo semelhante:
Enquanto houver quem se deixe enganar, haverá quem os engane.
Certa vez, ouvi um sábio dizer que coisas valiosas, como uma boa educação, honestidade e sabedoria, não podem ser compradas no mercado, e, por isso, há limites para o que podemos adquirir. Mas, por que estamos em um ponto em que não nos reconhecemos mais? Por que tememos ou nos envergonhamos do que somos? Há uma sensação no ar que nos alerta de que, a cada dia, estamos nos afastando do que nos completa como indivíduos. Agir dessa forma é como se fugíssemos de nossa verdadeira essência, como se sermos nós mesmos fosse vexatório.
Assim, parece que nossa essência não pode ser expressa, exaltada ou reverenciada. Isso fica evidente quando flertamos com alguém ou quando sabemos que ser verdadeiros resultaria em perdas em determinadas situações, e, para sermos aceitos, abandonamos ou “traímos” nossa essência.
A carência humana e a falta de autodescoberta nos afastam de nossa verdadeira natureza. A ausência de amor próprio se disfarça de sorrisos vazios. Quanto mais nos afastamos do que é honesto e justo para nós mesmos, mais entramos em conflito. Não há honestidade externa sem que ela exista internamente. Quem sabe amar não busca a guerra.
O mundo está em constante conflito porque alimentamos esse ciclo e porque amar continua sendo uma das tarefas mais difíceis. É mais fácil disparar mísseis e lançar granadas, é mais fácil ferir e tentar extinguir ideias diferentes do que aceitar as diferenças sem temer a perda de espaço.
A falta de amor e o medo de ficar sem um lugar na sociedade alimentam guerras, assim como a falta de compreensão dessas questões nos faz confiar demais em pessoas que não merecem tal honra, dando origem a uma guerra interior chamada ignorância e incoerência.
Platão e Buda abordaram esse tema, afirmando que a ignorância é a raiz de todo mal, acompanhada pela demência. A incoerência de pensamento nos faz ignorar nossos erros, tornamo-nos desleixados com nossa essência e perdemos a reverência.
Aqueles que são irreverentes tornam-se inconsequentes, e a confusão surge da falta de harmonia entre mente e coração. Quando estamos confusos sobre nossos valores pessoais, nos entregamos facilmente aos conceitos alheios, negligenciando nossa sabedoria interior, que é a raiz da guerra.
Toda guerra surge da ausência do ser, seja na luta entre ingenuidade e confiança, no dilema entre ser ou não ser, ou na batalha entre possuir ou deixar ir. Não é diferente das guerras que ocorrem no mundo exterior. Quem nunca ouviu a orientação das mães na infância: “Não aceite nada de estranhos” ou “não confie em quem você não conhece”? Posteriormente, fomos ensinados a não julgar as pessoas, o oposto do que aprendemos na infância.
Com o tempo, a maturidade nos mostra que a desconfiança é necessária e que a ingenuidade é o ponto de partida para construir confiança.
A dor ensina, como afirmava Buda, e a ingenuidade não pode coexistir com a confiança, pois esta última é algo que pode ser aferido, já a primeira nem sempre.
Aqueles dignos de confiança não se incomodam com a avaliação; pelo contrário, apreciam a oportunidade de serem observados e valorizados por sua integridade.
Portanto, não é razoável pedir que alguém confie cegamente em nós, pois a confiança é uma conquista solitária que carrega consigo as lembranças dolorosas da transição da ingenuidade para a dignidade.
Mas; Por ora, é melhor permitirmos que o sol brilhe.
Gratidão;
Dan Dronacharya.
Artigo da revista Meer;
https://www.meer.com/pt/76727-o-equilibrio-delicado-entre-confianca-e-ingenuidade

Escolha da Religião, segundo Huxley

“Segundo o Huxley,
O homem se curva a religião quando descobre a finitude ou quando acalmam-se os frenesis das muitas paixões da mente humana.
A religião ganha espaço quando nada mais nos resta a não ser se curvar.
Segue abaixo um trecho interessante do livro “O admirável Mundo Novo.” Apreciem e reflitam e claro, leiam a obra completa, é um história maravilhosa como tudo que o Huxley escreveu.”

“… Dizem que é o medo da morte, e do
que vem depois da morte, que leva os homens a voltar-se para
a religião à medida que os anos se acumulam. Todavia, a
experiência pessoal me trouxe a convicção de que,
completamente à parte de tais temores e imaginações, o
sentimento religioso tende a desenvolver-se quando
envelhecemos; tende a desenvolver-se porque, à medida que as
paixões se acalmam, que a fantasia e a sensibilidade vão
sendo menos excitadas e menos excitáveis, a razão é menos
perturbada em seu exercício, menos obscurecida pelas
imagens, desejos e distrações que a absorviam; então, Deus
emerge como se tivesse saído detrás de uma nuvem; nossa
alma vê, sente a fonte de toda luz, volta-se natural e
inevitavelmente para ela; porque, tendo começado a esvair-se
dentro de nós tudo aquilo que dava ao mundo das sensações
sua vida e seu encanto, não sendo mais a existência material
sustentada por impressões externas e internas, sentimos a
necessidade de nos apoiarmos em algo que permaneça, que
nunca nos traia – uma realidade, uma verdade, absoluta e
eterna. Sim, voltamo-nos inevitavelmente para Deus; pois esse
sentimento religioso é por natureza tão puro, tão delicioso para
a alma que o experimenta, que compensa todas as nossas
outras perdas”. Huxley.
Agora e por ora, deixemos que o Sol brilhe mesmo que seja inverno.
Gratidão,
Dan Dronacharya.