Segundo o nosso amado Bert Hellinger, existem duas formas de ver as coisas ao nosso redor: a forma filosófica e a forma terapêutica. A forma filosófica, é aquela que traz julgamentos. Essa forma de ver falará sempre dos avanços mentais que tivemos, analisará o todo e muitas vezes dará seu veredito de forma fria e imparcial. Por outro lado, o olhar terapêutico tem uma outra abordagem. A sua visão é mais acolhedora, menos fria e mais humana. Esse modo de ver as coisas analisará as circunstâncias e evitará os julgamentos precipitados que geralmente são conceitos próprios do mesmo julgador. Para o olhar terapêutico a analise precisa ser mais profunda, acredita-se que o indivíduo pode não ser ruim, mas, sim circunstâncias que o levaram a tais atos “condenáveis,” as vezes se envolveu em algo ruim, entrou numa cilada, confiou em quem não devia, e assim por diante. E sim! O oposto também é verdadeiro: muita gente é lobo em pele de ovelha, se faz de bom para conquistar, se arma em príncipe encantado e tantas outras formas de ludibriar. Mas qual é o seu olhar? A sua visão de mundo se baseia apenas nesses dois conceitos, ou você também acha que a vida é bem mais ampla do que as duas visões de mundo citadas acima? Segundo Jordan Peterson, o indivíduo, quando livre de “olhares”, só faz aquilo que realmente quer fazer. Será? Eu concordo com Jordan neste sentido, só que também acho que as pessoas fazem o que querem o tempo todo e não somente quando não estão cercadas de pessoas, ou seja sozinhas. O meu amado professor de ética, Clóvis de Barros Filho, sempre dizia em suas aulas que a moral é aquilo que você faz quando está sozinho. Mas, exercitar qualquer coisa longe dos olhares alheios é bem mais fácil e, às vezes, até mais prazeroso, não é? No final das contas, e em última instância, o ser humano só satisfaz ao seu desejo próprio. Ele sempre irá lutar para manter aquilo que mais valoriza. Mas como explicar aqueles momentos em que a gente acaba fazendo as coisas sem querer? Como entender as obrigações e as regras? Essa liberdade de ser o que quiser existe ou é só mais um conto? Acredito que essa resposta também já esteja respondida dentro de si. Nós sabemos até onde ir, como ir e com quem vamos. É importante discernimos que nada é absoluto e tudo é variável! Quando não entendemos isso, seja por falta de informação ou por ignorância, perdemos a liberdade. Segundo a filosofia do Yoga, “liberdade é autodisciplina”. Acredita-se que o ser é autorresponsável , quando ele responde conscientemente por seus atos e sentimentos, quando ele já não culpa mais ninguém pelos seus sentimentos e ações, é que ele se torna livre. Para o Yoga, uma pessoa só é livre quando ela já conseguiu se soltar das amarras dos outros. Se abdicarmos dessa responsabilidade, também perderemos a liberdade. Alguém mandará na nossa vida porque não somos capazes. Liberdade é poder responder pelas coisas, sejam essas escolhas positivas ou negativas, segundo olhares alheios, e qualquer coisa fora disso é lenda. A observação disso é muito simples: se alguém paga, esse alguém também manda. Eu sou meio como Voltaire, acredito que liberdade é possuir todas as chaves, ser conhecedor de todos os caminhos e ainda assim resolver se permanecer. Acredito que um anjo que corta as suas asas talvez tenha em seu peito o desejo, ainda que insano, de não mais querer voar. Acredito que o ser só é livre quando pode ser “parvo”, até mesmo porque, para mim, todas as pessoas ignoram algum assunto e o entendido de tudo não entende nada. Para mim, a liberdade é a maior conquista da alma humana, e por isso ela é muito falada, confundida com libertinagem e, portanto, usada indevidamente. Penso que ser livre para pensar ou para ser você mesmo independentemente do que os outros querem de você, ainda é a nossa maior busca. Gratidão, Dan Dronacharya.
Você já se pegou, em frente a uma lareira ou fogão a lenha, contemplando o fogo e o tempo?
Bem,
Ainda não chegou o inverno, e eu, devido a uma rotura no pé e todos os outros malefícios que o frio me traz, já tenho passado muito tempo perto da lareira. Dizem que o tratamento para aliviar as dores nos tendões que estão prestes a ceder é por gelo e que o quente só confortaria. Então, vamos de conforto, porque gelo não é uma opção para mim. Tenho Raynauld.
Entretanto a prosa de hoje não é sobre esses pormenores citados acima; o assunto de hoje é sobre o nosso mundo interior, os nossos mapas mentais e os nossos monstrinhos, a forma como expomos tudo isso pode nos atrapalhar ou até mesmo nos tirar o gozo da vida.
A parte boa é que podemos dirigir o ônibus, saber conduzir deixará a viagem um pouco mais leve e suave, os “pit stop” são extremamente importante, tipo ficar diante do fogo, facilitar o próprio respirar, articular o espirito e dar aquela energizada em todo ser.
Falaremos como as imagens distorcidas podem nos ajudar a caminhar, veja quais são os desenhos que se formam nas brasas. Perceba onde estava…
Engraçado, os desenhos estavam nas brasas, mas para mim se pareciam com o fundo do mar, era tal como um navio que foi afundado, tinha um lindo salão de festas, estilo século XIX, sabe? Lindo! Junto do degrau mais baixo da escada estava a estatua de uma donzela e a sua frente, portanto, estava o salão de festa da primeira classe. Tudo muito fino e organizado, as coisas só não eram mais belas do que a silhueta dela.
As coisas se misturavam e o feio se tornaria excêntrico e logo no canto esquerdo, um tipo de ogro comandava o evento, figura enigmática, uma mistura de lagarto marinho que, de tão esquisito, estava bonito (risos). O cenário foi ficando cada vez mais envolvente.
Fiquei um bom tempo a observar a doce donzela que, com o avançar do fogo, foi perdendo a bela silhueta e para piorar a cena, ela não virou borboleta. Num piscar de olhos, ela se assemelhava a uma lesma saindo do casulo, eu levei um susto e quase dei um pulo! Fiquei presa na imagem como peixe no anzol, procurei pela a princesa e encontrei um caracol. :). Sorri por dentro!
Entretanto, lá do seu canto, o ogro excêntrico permanecia intacto, pleno e soberano, com os seus dois buracos na face a soltar fumaças e labaredas como um dragão enfurecido com o vilão.
Penso que vez ou outra, poderíamos nos permitir, ainda que seja por poucos instantes nos encantar por uma lareira escaldante, ficar ali, como quem não quer nada e viajar. Andar por todo lado sem sair do lugar e caminhar para além das montanhas laranjadas do Outono ou simplesmente, deixar ir, não tentar impedir, deixar fluir e ver o que o fogo diz com seus desenhos ardentes e envolventes e assim sentir onde sua mente verdadeiramente, está.
Reza a lenda que cada um vê aquilo que lhe é comum. Isso significa que nossa visão é influenciada, não é totalmente limpa, nós vemos aquilo que os véus nos permitem ver.
O Yoga aborda esse assunto, ensina-nos que devemos retirar os véus de Maya (ilusão) para que possamos ver e apreciar a realidade.
Até a ciência se debruça sobre essa questão. Muitos estudos afirmam que as pessoas veem as coisas de formas diferentes dependendo da região em que vivem, isso devido às suas crenças culturais, religiosas e filosóficas.
Então, vamos desenrolar esse novelo e tentar entender como funciona esse jogo de cartas. 😊
O ambiente onde vivemos é um fator importante a ser considerado em nossas visões, portanto se o lugar onde você vive é repleto de pornografia e traição, é natural que veja cenas de sexo ou violência em imagens distorcidas. Se você é uma pessoa santa, vive em templos, é fiel aos mandamentos da sagrada instituição, então, pode ser que veja alguns ou muitos anjinhos.
No entanto, se estiver lá só de faz de conta, pode ser que alguns capetinhas aparecem para lhe perturbar a cabeça. Qual é a sua cota? Não, não precisa dar-me a resposta. 🙂
Relaxe, não tenha pressa! Existe uma outra lenda que diz que enquanto houver vida também haverá esperança, portanto, tenha paciência consigo e quando puder, sente-se em frente ao fogo e deixe que ele revele quantos e quais são os monstros que perturbam a sua mente e porque isso ainda acontece. Deixe tudo vir abaixo e alivie-se do cansaço.
Posso oferecer um conselho? Livre-se das mágoas….
Tente revisar suas bagagens; sabe aquele orgulho ferido, escondido no fundo da mochila? Jogue fora, livre-se dos entulhos e dos personagens que você inventou. Reveja todos os seus itens e desapegue daquilo que o endurece, entristece e adoece; jogue fora todo esse lixo.
Reavalie a carga, reabasteça a garrafa d’água, o vidro de poções e a lata de boas energias, confira o peso, veja se ainda há dores. Refiro-me as dores da alma, para as dores físicas tomaremos remédios, vai, verifica!
Às vezes, é melhor deixar para lá e começar a oferecer flores, fazer as pazes consigo mesmo e, antes de dar as moedas ao gondoleiro, selar energeticamente o seu corpo por inteiro.
Sou curandeira de sangue e de raiz! Desde menina, a morte me intriga e me fascina. Sempre gostei de observar onde é que a “”pessoa” dobra a espinha”.
Eu venho de uma família grande, tradicional, e matriarcal, com benzedeiras, curandeiras, artesãs, parteiras, rezadeiras e guerreiras. Sou daquela época em que os velórios duravam três dias, dava tempo de chorar, de conversar com tudo o que tinha pra conversar e também dava pra comer bastante, antigamente era meio obrigatório , a família do morto oferecia lanches, almoços e jantares durante todo o velório.
Muita gente da minha família só se via nos velórios ou nos terços, depois do funeral toda gente se dispersava e na missa de sétimo dia já não havia a mesma multidão. Interessante, não? Já acompanhei muitas rezas, muitos velórios e funerais e até dentro de uma tumba eu já cai. Portanto, eu pude aferir as informações passadas pelos anciãos.
Parece-me que o desespero do doente terminal começa pouco antes da chegada das Valquírias, minutos antes do último suspiro e aquelas pessoas que são negativas, vingativas, egoístas, desonestas ou insensatas, sofrem e lutam bastante nos últimos momentos da vida, travam batalhas horrorosas com os demônios e a mente fica demente deixando transparecer o seu verdadeiro conteúdo.
Contudo, também, parece-me que quando as pessoas são bondosas, positivas, amáveis e generosas partem sem muitas complicações; não ficam assustadas, não sofrem, mesmo que estejam com doenças terminais. O estado de aceitação parece fazer toda a diferença e essas pessoas levam o fim com boa disposição, muitas consolam aqueles que ficarão.
Não tenho como, não me recordar dos anciãos, eles sempre diziam que uma pessoa boa morre mais rápido do que uma pessoa ruim. Nunca me esqueci deste conselho e nem do dia em que me foi dado. Nesta data, velávamos a minha amada avó.
Numa outra ocasião, numa conversa cheia de tretas espreitei a dona Persa com a dona Roseta. Elas falavam sobre os últimos dias da dona Víbora, uma senhora fuxiqueira aqui da aldeia.
A dona Persa tinha ido visitá-la na casa de doentes da vila e voltou chorona, chocada com tudo que tinha visto por lá, ficou horrorizada, coitada! Ela estava em pânico e dava para ver o medo estampado na cara pálida dela.
Não sei ao certo o que lhe causou tanto pavor, se foi porque percebeu o fim comum a toda a gente ou o se foi por temer o fim dela própria, ai que horror! Segundo ela, a dona Víbora estava com os braços amarrados com faixas, para que a própria parasse de se arranhar.
Contou que a doente falava baixinho, que de tão baixinho mais se parecia um murmurar, falava em lutas espirituais com seres bem ruins e ficava apontando o dedo em direção a parede, questionando a todo o instante se alguém mais estava a ter a mesma visão, não parecia alucinante. Afirmava com o olhar firme que estava lutando com os espíritos e que eles não davam paz ao seu coração.
A todo o instante falou em celas, grades correntes e fivelas, mas não entregou os pontos, não! Continuou arrogante, nervosa e conflitante.
Fiquei de longe ouvindo a dona Persa narrar o episódio, ela tem 801 anos, poucas vezes a vi tão fragilizada. E, em meio aos soluços este fato, ela narrava.
Estava com a voz embargada, o corpo inclinado e cabisbaixa, antes de se despedir, com as mãos trêmulas, segurou no braço da dona Roseta e afirmou:
“O fim da vida não é fácil, e pouquíssimas são as pessoas que têm a sorte de morrerem sem dor, sofrimento ou fantasmas. Lembrei-me novamente do ancião. Mentalmente, eu lhe disse:
“Relaxa dona Persa… As “Pessoas” boas morrem rápido…”
Na altura, toda a vila das fadas soube do fim trágico da dona Víbora e dizem que ainda hoje se ouve um tremor terra, bem onde foram depositadas as cinzas dela. Isso não é um conto, mas depois eu conto! Até lá aprecie o conforto da lareira quente e permita que o Sol brilhe radiante dentro de si, mesmo que seja inverno.😊
Aceitamos uma mentira quando não vemos pelo Olho que Nasceu numa Noite para perecer numa Noite quando a Alma Dorme em Raios de Luz.
William Blake
A Pergunta
Conhecemos a nossa consciência como o cavalo conhece o cavaleiro que o monta ou como o timoneiro conhece as estrelas pelas quais traça o seu curso. Entretanto, muitos cavaleiros montam o cavalo — e muitos timoneiros conduzem o navio, guiando-se cada qual por uma estrela diferente. A pergunta é: quem governará os cavaleiros e que curso o capitão deve escolher?
A Resposta
Um discípulo perguntou ao mestre: “Que é liberdade?” “Mas que liberdade?”, replicou o mestre. “A primeira liberdade é a estupidez. Lembra o cavalo que derruba o cavaleiro e relincha em triunfo, só para ter as correias da sela apertadas ainda mais. A segunda liberdade é o remorso. Lembra o timoneiro que afunda com o navio depois de tê-lo arremessado contra os escolhos, em vez de salvar-se nos botes com os outros marinheiros. A terceira liberdade é a compreensão. Ela só vem, ai de nós, depois da estupidez e do remorso! Lembra o caule que se dobra ao vento e, por dobrar- se no ponto fraco, resiste.” “E isso é tudo?”, estranhou o discípulo.
Respondeu o mestre:
“Muitos pensam que buscam a verdade com a sua própria alma, mas é a Grande Alma que pensa e busca neles. Como a natureza, ela aceita a variedade, mas substitui facilmente os que tentam trapacear. Aos que lhe permitem pensar e buscar neles, concede porém uma pequena liberdade, ajudando-os como o rio ajuda o nadador a alcançar a outra margem, desde que se submeta à sua corrente e se deixe levar.”
Trechos do livro A simêtria Oculta do Amor de Bert Helinger. 🙂