A Mente Cósmica
“O ampliar da consciência e o mitigar das crenças mentais: uma jornada perfeita para além da perfeição.“
Reza a lenda que o caminho se faz caminhando. Então, sendo o caminhante o seu próprio caminho, quem poderia estar apto a dar as direções?
Olá, amores…
São apenas dez anos de estrada e, às vezes, penso que a diferença entre mim e as outras pessoas que optam por estudar profundamente o ampliar da consciência e o mitigar das crenças mentais do ser é que eu me exilei sem precisar ir para um mosteiro.
Eu não tenho vida “social”, por assim dizer, porque assim desejei. E há dez anos consegui dedicar minha vida a isso. Passo muito tempo a estudar.
A minha jornada, muitas vezes solitária, tem sido uma imersão profunda nas páginas amareladas dos livros que, aos poucos, se tornaram meus confidentes, meus amigos mortos.
Penso e entendo que estamos ligados numa rede energética, morfológica, sinestésica e sensorial que transcende o tempo à procura de respostas para as muitas perguntas que sempre afligiram a mente daqueles que desejam entender um pouco além do que a vista alcança.
Portanto, confesso que os meus textos podem ser um tanto quanto influenciados pelo pensamento desses nobres senhores.
São muitos os mestres que ajudaram a reconstruir o meu ser, mas também é verdade que, dentre tantos, apesar de louca pelo Locke e Hume , eu tenho passado imenso tempo com apenas três dos muitos nobres defuntos.
Antes de os conhecer, eu pensava que a perfeição poderia ser algo ruim; agora, tenho a certeza de que é.
Quando me perco nas palavras de Jules Payot, sinto a presença dele como a de um guia sábio que me acompanha e conduz pelas trilhas do entendimento do caráter. Consigo vê-lo a bater a ponta da pena no papel enquanto amadurece seus pensamentos.
As noites de solidão tornaram-se conversas silenciosas com o meu querido Aldous Huxley. Os nossos encontros são sempre regados com um bom vinho português. Suas narrativas são intensas e ecoam como afagos nos corredores machucados da minha mente.
E, entre as páginas críticas e provocativas de Oswald Spengler, encontro um conforto peculiar, um aconchego amigável, como se ele partilhasse comigo os muitos segredos do passado em cada linha que caprichosamente traça.
Por toda a vida quis entender como funcionava a mente humana. Tenho sede de compreender por que razão recorremos tanto a mitos e fantasias, sendo a vida tão rica em beleza e magia.
Eu queria — e ainda quero — saber por que é que mentimos quando queremos conquistar, amansar ou cortejar.
O saber provoca-me de forma alucinante e envolvente. Eu o sigo, vou atrás como uma leoa faminta em busca da caça: totalmente focada, sem desviar o olhar, nem por um instante, daquilo que matará a sua fome e a de seus filhos.
Eu sinto prazer em entender a diferença entre o lé e o cré de quem pensa diferente de mim. Penso que, assim, descobriríamos por que é que, para sermos aceitos em sociedade, nós nos mascaramos e criamos personagens, em vez de assumirmos nossa essência.
Onde será que está o erro em deixar sair a voz do Divino que nos habita?
A verdade é que, desde a juventude, sempre enxerguei a perfeição como uma quimera distante, um horizonte inalcançável que apenas os desprovidos de caráter buscariam.
Recordo-me, no entanto, de um episódio marcante que ilustra essa crença arraigada.
Certa vez, ao observar um colega que meticulosamente arrumava seus pertences, alinhava os lápis em perfeita simetria e entregava trabalhos impecáveis, questionei-me sobre a autenticidade daquele comportamento.
Aquela busca obsessiva pela perfeição parecia não refletir uma busca interior e sincera. Soava falsa e demonstrava muito mais um desejo superficial de impressionar os outros que o ladeavam — uma máscara que encobria as imperfeições genuínas daquela alma mecanizada.
Mesmo hoje, em pleno século XXI, infelizmente, ainda são muitos os que desconhecem a verdadeira energia que rege o mundo e vivem hipnotizados.
Existe uma multidão totalmente imersa num mundo palpável, exato, organizado e calculável. Negam veementemente o caos universal, eles negativam a percepção e positivam a ilusão.
Sendo que na verdade, vivem em bolhas, afundados até os pescoços na ilusão infantilizada de que o seu modo de ver o mundo é o olhar perfeito.
Esses seres — pobres seres — buscam ver as coisas externas como valiosas e, por isso, não conseguem contemplar o cosmos que eles próprios são. Eles desconhecem, portanto, a doçura do sentimento chamado amor. Não percebem a realidade mágica que os cerca.
São amantes do mundo real idealizado por outro ser, priorizam as leis, prendem-se às formas inventadas por esse alguém que ninguém sabe quem é, mas que todos obedecem, acreditando que tudo é meticulosamente organizado. É inevitável que percam a magia do sentir.
São metódicos, seguem regras sem questionar — como um bom rebanho segue seu pastor!
Lá se vão muitos anos e a multidão até hoje nada sabe sobre o caminhar das formigas, nem os passos da dança estranha do percevejo com “aquilo não existe porque eu não vejo”. 😊
Mas o que é perfeito, mesmo?
Todas as vezes que escuto alguém dizer: “Nossa, isso é perfeito!”, fico feito barata tonta em busca de validar o tal conceito de perfeição. Giro e penso que, enfim, achei a direção.
Concluo, portanto, que o perfeito só pode ser algo sem defeito no mundo daquele que o olhou e assim o definiu. 😉
Por ora,
Deixemos o Sol brilhar, mesmo que seja inverno…
Que o pranava Om esteja presente nos seus dias.
Gratidão,
Dan Dronacharya
Leia os artigos semelhantes; https://dandronacharya.com/consciencia/


