O limiar entre o sonhar e o despertar, entre a ilusão e a verdade
A noite já ia estrada afora, e todos dormiam tranquilamente, ainda que ansiosos pelo último desafio do ano. Dormiam… Até que, de súbito, todos os vaga-lumes e plânctons iluminados se ascenderam em uníssono, rasgando a penumbra e despertando o sono dos estudantes. As vassouras se agitaram sozinhas no pit stop mágico, e a alta madrugada, envergonhada, recuou para as sombras…
TAM-TAM-TAM-AUM…
Os estudantes da escola correram para as janelas de seus aposentos, a vila inteira despertou num piscar de olhos, o senhor Sapo abriu uma fresta na sua grande Vitória-Régia, e os duendes e pirilampos saíram de suas minúsculas tocas, arregalando os olhos. Até a dona Preguiça e o senhor Sonêca emergiram de seus refúgios, canecas nas mãos, como se pressentissem um acontecimento que não poderia ser ignorado.2
E então, ela veio.
Como uma nuvem lilás, perfumada e vibrante, Lavanda riscou o céu da vila, deixando um rastro de faíscas brilhantes em seu voo.
— Nada de novo! — gritou a mais bela e também a mais rebelde das bruxas, lá do alto, enquanto fazia “drifts” e cambalhotas com sua vassoura estilizada sob o céu estrelado da escola de magia do Reino das Fadas.
Gargalhava. Gargalhava como quem conhece segredos que os outros ainda não ousaram desvelar. Com alegria na voz, bradou aos quatrocentos ventos que a acompanhavam:
— Acordem, crianças! Despertem desse sono de ilusão! Perguntem-se os POR QUÊS, investiguem o ONDE e questionem se DEVEM IR.
E num tom provocador, anunciou:
— A vida segue na mesma direção, e vocês também! Ainda não perceberam? Hahahaha…
O riso de Lavanda não era apenas um som no vento. Ele tinha um peso, uma intenção, uma força que estremecia a estrutura invisível do conformismo.
Os estudantes observavam em silêncio, mas dentro deles, algo despertava.
Lavanda não estava apenas brincando no céu estrelado—ela desafiava, provocava, lançava dúvidas como se fossem feitiços invisíveis.
Seu riso ecoava entre as torres da escola e as casas da vila, infiltrando-se nos pensamentos e sacudindo certezas. E não era à toa: Lavanda era a melhor professora de magia, a mais querida e, sobretudo, a mais perigosa para aqueles que preferiam permanecer adormecidos dentro de suas próprias ilusões.
Então, ela ergueu sua vassoura e, como quem invoca um antigo decreto, proclamou:
— Decifrem o enigma, pequenas estrelas brilhantes! Pois o conhecimento sem coragem é estéril, e a ousadia sem verdade se desfaz em poeira. Sejam talentosos e inteligentes, Solis radiantes! Sejam ousados e honestos—pois apenas assim conquistarão a chave da própria vida.
Sua voz agora não era apenas um chamado, mas um desafio.
— Este não é um teste comum. É o limiar entre o sonhar e o despertar, entre a ilusão e a verdade. Quem ousa atravessar?
E então, como um trovão em meio à noite, veio a revelação:
— Nem todos conquistarão. Alguns hão de escolher viver as vidas de outros, e isso, ainda assim, sempre será uma escolha. Mas para aqueles que desejam a liberdade de responder por si mesmos, o desafio está lançado.
Ela pausou, deixando que as palavras penetrassem fundo nos corações e mentes que a ouviam.
— Portanto, saibam que este não é um jogo. Este é um desafio real. Um chamado para aqueles que desejam viver com autenticidade. Não basta questionar—é preciso ter valor para enfrentar o desafio da própria existência.
E então, com um brilho enigmático no olhar, Lavanda expôs as regras:
— Todos os inscritos terão três chances, que poderão ser triplicadas. Portanto, prestem atenção nestas coisitas:
🔹 O talento vale 3 runas. Ele, por si só, não dá vantagem extra, mas, quando acompanhado da inteligência, triplica suas chances.
🔹 A inteligência é uma forma especial de talento. Vale 9 runas. Ela combina com todas as casas e tem cadeira cativa em todos os lugares. Ela é diplomática, gentil, doce e sorridente. No entanto, sabemos que os autoritários e os ignorantes não a recebem bem… Mas deixa pra lá.
🔹 A ousadia vale 6 runas. No entanto, cuidado! Ela pode se tornar negativa em certos momentos. Sem inteligência e sem sensatez, a ousadia se torna imprudência—e a imprudência pode ser fatal em algumas circunstâncias.
🔹 A honestidade, porém, não perde seus pontos. Ela vale nove vezes o valor de nove. Reza a lenda que seu poder aumenta o valor de quem a possui, independentemente da situação. É a pedra mais preciosa no tabuleiro.
E então, num gesto quase solene, Lavanda fez seu anúncio final:
— Sem honestidade, não há talento que resista, nem inteligência que suporte.
Ela sorriu de canto, olhou cada um dos inscritos e decretou:
— A sorte está lançada… Que comece o desafio.
E, nós?
Bem,
A gente se vê qualquer dia desses pra partilharmos um chá com flores de laranjeira…
Entretanto; Por ora é melhor deixarmos o Samsara seguir seu curso.
Gratidão;